“In vino Veritas”…Contudo, não é pelo vinho que tomei há pouco que me atrevo a desafiar, mais uma vez o papel (ou seria o meu laptop ?), para escrever algo. É sobre o sentimento de PRESENÇA que quero partilhar com vocês. E tal como o vinho, ela é verdadeira!
Sob um dos seus ângulos, estar longe significa interromper barreiras físicas. Significa dar cabo de uma situação de
pertença física do outro.
É quando tomamos contato com os mais possessivos sentimentos humanos: aqueles que dizem a alto e bom som: “É meu!”. No entanto, ficar longe subentende que o outro responde a esta exclamação desta forma: “Mas eu vou...”.
Acredito que aí reside o nó de um dos nossos problemas. Não temos controle sobre a vida do outro. De fato, a vida dele não nos pertence. E, por isso, muitas vezes o sentimento de pertença física dá lugar, a uma frustração imensa (“Ele(a) não gosta mais de mim...”). Isto porque, insistimos na velha fórmula de que o mundo deve girar ao nosso redor, e que devemos ter controle ao máximo das situações (e poderia dizer também, pessoas) que passam aos nossos olhos.
Por sua vez, estar perto é muito mais do que simplesmente pertencer fisicamente. É estar
Presente.
E, nesta ideia de presença, ela não necessita da proximidade física.
Algo que vem do coração (e, também poderia dizer, do centro de nossas emoções), transcende a carne e se esvai pelo ar, para então chegar ao coração do outro, sem que importe este estar perto ou longe fisicamente. É o mais puro exemplo do que é ser sublime em nossas relações pessoais.
Por uma música que lembra algo ou alguém; um sorriso numa fotografia; por uma oração; ou através de uma contemplação ao ambiente, acredito que podemos nos conectar ao outro e curtir a sua presença mesmo estando a quilômetros de distância.
Presença sem
Pertença Física, repita-se.
Por ser tão sublime, é difícil de ser decodificada em palavras a
Presença que sinto dos que tenho muito carinho. Embora não
pertença fisicamente ao ambiente que muitos estão nesse momento, sinto-me, inexplicavelmente, Presente.
O que é muito bom! Porque esse exercício que faço, diariamente, de deixar de
Pertencer Fisicamente (e também de querer Ter Fisicamente) a pessoas que sempre tive por perto, dá lugar, gradativamente, a uma
Presença enorme e sólida. E, esta sim, é muito mais importante para mim.
Muito boa esta experiência! O que - é bacana também dizer - não me impede de estar
Presente aqui... Vivenciando cada segundo dessa minha jornada, e até pertencendo fisicamente a este ambiente que ainda não foi desvendado.
Termino com a excelente música de Zé Kéti e Hortêncio Rocha, lindamente cantada, inicialmente, por Nara Leão, e regravada pela, não menos linda, Fernanda Takai:
“Diz que fui por aí”.
Diz que fui por aí
Se alguém perguntar por mim
Diz que fui por aí
Levando um violão debaixo do braço
Em qualquer esquina, eu paro
Em qualquer botequim, eu entro
E se houver motivo é mais um samba que eu faço
Se quiseres saber se eu volto diga que sim
Mas só depois que a saudade se afastar de mim...
Eu tenho um violão para me acompanhar
Tenho muitos amigos, eu sou popular
Eu tenho a madrugada como companheira
A saudade me dói no meu peito me rói
Eu estou na cidade eu estou na favela
Eu estou por aí sempre pensando nela
Pensando nela... Pensando...